Entrevista com o arquiteto Matheus Esquivel
Entrevista com o Arquiteto Matheus Esquivel - A Arquitetura como parte imprescindível na humanização dos projetos.
De tempos em tempos, a arquitetura se molda, dinamiza, inova, e o mercado acompanha as transformações dos modos de vida da sociedade e suas tendências e culturas. O Aqui No Guia convidou o arquiteto Matheus Esquivel para falar um pouco desse universo imobiliário e da sua atuação na região.
Matheus, vamos começar falando um pouco de como surgiu essa vontade de se tornar um arquiteto. De onde partiu essa ideia e a sua formação na área.
ME – Na minha infância, por volta dos meus oito anos, meus pais estavam construindo uma casa, sendo que já haviam feito outra e cresci vendo essas obras na mesma rua que morávamos e eu costumava brincar, ficando muito presente durante o processo de construção. Um belo dia pude acompanhá-los para uma reunião com o Arquiteto e eu fiquei observando. Em um desses momentos em que meus pais já estavam sozinhos à noite discutindo o projeto, dei um palpite na planta e minha mãe achou que eu estaria brincando e que não tinha como entender aquilo tudo por se tratar de uma planta baixa. Quando comecei a falar, ela percebeu que eu estava entendendo do assunto o que a levou a me presentear com a assinatura de uma revista do gênero. Com essa iniciativa, comecei aos poucos a me interessar por desenhos e projetos de arquitetura. A partir dessa visão de que uma criança pudesse perceber e entender uma planta baixa, a coisa fluiu naturalmente. Foi uma intuição que minha mãe teve de perceber que eu tinha vocação e me incentivou. Eu gostava muito de desenho ao ponto de meus pais, por algumas vezes, serem chamados ao colégio para ouvir da Diretora que eu ficava desenhando durante as aulas.
O que é a arquitetura para você? Sua relação com essa área que muito tem a revelar.
ME – Não dá para falar de arquitetura sem falar do ser humano. A arquitetura pode ser considerada por muitos uma espécie de arte. Pode ser considerada o que for, mas ela não pode se fixar apenas nisso, pois a arquitetura tem que servir para abrigar e atender às necessidades do ser humano. No nosso dia a dia convivemos o tempo todo com a arquitetura: Nossa casa, no comércio, nos lugares em que frequentamos… Então, a arquitetura tem que ter a sua plástica sim, valorizada e bonita com tudo que tenha de estético para mostrar, mas, tem que ter a função de ser útil ao ser humano. Não deve ser admirada apenas como uma obra de arte pura. Pode até ter arte, criatividade, design, tudo que possa oferecer, mas, sem a funcionalidade, sem o abrigo ao ser humano, ela não estaria cumprindo o seu principal objetivo.
Como se dá a atuação do arquiteto na obra, a sua relevância no projeto.
ME – O primeiro passo para a construção de uma obra é o Projeto Arquitetônico, através do qual derivam outros como Cálculo Estrutural, Elétrico, Hidráulico, Paisagístico, etc… Daí poder-se afirmar que a Arquitetura é que determina não só a forma, o design, os materiais a serem empregados, mas também a disposição dos vários ambientes e tudo que neles consistem. A depender da equipe de execução que deve seguir fielmente o projeto, às vezes torna-se até indispensável a presença física do Arquiteto na obra. Tive a oportunidade de elaborar projetos para outros Estados em cujas obras foram feitas apenas duas visitas técnicas. Lógico que tudo isso pode mudar a depender do acerto com o cliente quanto à quantidade de visitas, se o Arquiteto ficará responsável pelo acompanhamento da execução. Tudo dependerá do que for definido em contrato. O Arquiteto é contratado para criar, ao ponto de poder afirmar que Arquiteto não vende “papel” e sim “ideias.”
Como você caracteriza o seu estilo de arquitetura, suas especialidades e identidade enquanto profissional?
ME – Acho que estamos diante de uma arquitetura contemporânea, porém aqui em nossa região, apesar de toda minha trajetória, ainda não pude me dar ao luxo de escolher um determinado estilo, pois estou sempre procurando atender aquilo que o cliente deseja. Já criei projetos neoclássicos, projetos contemporâneos, projetos utilizando mais madeira, mais vidro, mais concreto… No momento em que o cliente dá o start, a criatividade surge para satisfazer aquela necessidade e a ideia preconcebida que ele já tem e traz consigo. Eu costumo dizer que não detenho um estilo próprio, pois sempre surgem novas ideias, novos desafios a serem superados. Penso que o arquiteto tem que estar atento às necessidades do cliente, interpretando aquilo que está em sua mente, transformando seu sonho em realidade.
Como você avalia o mercado imobiliário e arquitetônico na região, mais especificamente aqui em Itabuna? Está sendo promissor?
ME – Nesse momento de dificuldade financeira que não é só em Itabuna, o mercado imobiliário deu uma esfriada, e como todo ciclo, acredito ser temporário. Itabuna carece com urgência de mais investimentos, a exemplo do Grupo André Guimarães que aqui chegou e investiu pesado no Projeto Cidadelle – que hoje em dia podemos perceber onde existe a maior demanda de obras na região –. A empresa acreditou que o novo aeroporto, a ferrovia, e as demais promessas de investimentos aconteceriam em nossa cidade. Itabuna carece de indústrias que possam criar empregos, gerar renda e isso quando acontecer, certamente aquecerá muito o mercado imobiliário. Existe um déficit de oportunidade de emprego em Ilhéus e Itabuna, sendo que nos últimos 15 anos houve uma saída de muita gente da região, pessoas que tinham perspectiva de vida, de um meio social para investir e poder realizar grandes obras e grandes empreendimentos.
Como o cliente pode contratar o arquiteto, como se dá o orçamento, a base dos custos?
ME – A contratação do Arquiteto pelo cliente pode ser de várias formas, sendo que na maioria das vezes se resume ao Projeto Arquitetônico Legal (que é o projeto da edificação obedecendo as normas municipais ou de acordo com algum regimento específico), também existe o Projeto Executivo (com detalhamento para execução de obra, fornecendo especificações de materiais e acabamentos), além do Projeto de Interiores (com detalhamentos ainda mais específicos que vão desde a parte luminotécnica, detalhamentos de mobiliário e até decorativos do ambiente). Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a contratação do Arquiteto é um investimento que acaba evitando desperdício de espaço, de material e de dinheiro, que pode chegar até 6% do custo de uma obra.
Quais suas obras mais significativas em Itabuna? Qual a que você destacaria como uma “obra chave”, digamos assim.
ME – Foram muitos e variados projetos, residenciais e comerciais. Cada projeto para mim é um novo desafio. Às vezes encaramos um projeto antigo como uma coisa legal. Não tenho muito xodó com os projetos; acho que cada novo que surge vai me encantando ainda mais. Contudo, tenho um projeto que praticamente me lançou no mercado de trabalho tendo sido considerado bombástico naquele momento, o chamado Contagem Regressiva que hoje, se não me engano, é o Kenko, na Rua Nações Unidas. Esse empreendimento lançado por ocasião da copa de 2002, sendo que eu estava recém-formado, e foi a obra que me lançou para o público, apesar de ter feito residências, que geralmente não tem muita visibilidade, pois muitas vezes as pessoas não tem acesso até a casa dos clientes. Naquela época, não dispúnhamos dos meios de comunicação como as redes sociais para divulgar o trabalho. Então eu fazia muitos projetos que não eram tão divulgados. O bar ficou bem diferente, era bem transado. Logo em seguida, o proprietário do mesmo bar fez uma pizzaria e restaurante na mesma rua atraindo outros estabelecimentos comerciais do mesmo ramo, transformando o trecho num setor gastronômico. Recordo-me que foi interessante aquela proposta, pois muita gente frequentou aquele ambiente e perguntavam quem teria sido o autor do projeto. Lá pude criar algumas novidades de última hora, por exemplo, um suporte de TV que teve de ser fabricado bem como mandei fazer uma borda de balcão com tubo de aço inoxidável que até hoje está lá e provou sua resistência. Deu certo. Algumas criações que surgiram ali naquele projeto ajudaram a destacar meu trabalho e as pessoas procuravam saber, surgindo daí em diante muita coisa interessante. Algumas lojas como a Estilo XXI, diferenciada em móveis e decoração, foi também um ponto positivo e gerou muito negócio. A residência de Renam Moreira no Jardim das Acácias, uma casa que teve um projeto desafiador de agradar o proprietário, por ser de estilo neoclássico baseado na arquitetura grega no qual fiquei satisfeito com o resultado, o cliente também, que é o fator mais importante do projeto, além dos comentários sobre a obra, pois ela nunca passa despercebida, se alguém gosta, fala; se alguém não gosta, também fala. Foi um desafio superado principalmente pelo tipo de trabalho que gera algum tipo de comentário, que é legal.
Quais seus objetivos, planos e projetos futuros? Pretende expandir sua atuação para demais cidades?
ME – Sempre procuro crescer e expandir. Tenho atuado em algumas cidades circunvizinhas, como no mercado imobiliário de Maraú e Barra Grande que é bem procurado por investidores, onde tenho realizado alguns bons projetos e está com perspectiva de que possam vir acontecer mais obras por lá. Em Vitória da Conquista, estou iniciando mais dois projetos, numa cidade também com um crescimento muito promissor e estou atento a isso. Recentemente estive em Santo Antônio de Jesus, fazendo visita em muitos condomínios. As pessoas não sabem, mas lá existem mais de trinta condomínios fechados, com casas de pequeno e grande porte. Itabuna hoje está em torno de dois ou três, enquanto que em Santo Antônio já são mais de trinta. Então são cidades que estou aos poucos buscando ingressar.
Quais as novidades e inovação para o mercado neste ano de 2018? Muito tem se falado em minimalismo, apartamentos compactos, estilos de vida. Uma breve análise para as expectativas na área da arquitetura para esse ano.
ME – Olha, o minimalismo é interessante até para quem não gosta de muita extravagância, e também, não é o meu estilo de fazer nada muito extravagante, poluído. O minimalismo também é uma tendência pelo aumento do preço do metro quadrado nas grandes cidades, em todos os locais, as pessoas têm buscado se adaptar em ambientes menores. A versatilidade de imóveis planejados com duas ou três funcionalidades é a adequação desses pequenos imóveis. Foi lançado em São Paulo um apartamento de 25 ou 28 metros quadrados, um apartamento com tudo dentro, você vê que as pessoas estão procurando se encaixar em ambientes menores e nem por isso deixarão de ser confortáveis, de ser aconchegantes. As tendências estão aí, a gente tem visto muitos investimentos imitando os produtos naturais: A madeira, pedra. Sou muito fã do vidro, acho que a tecnologia do vidro se adapta em vários tipos de projetos na arquitetura. Cada vez mais a gente tem visto o vidro se aperfeiçoando, sendo usado não só para esquadria, não só para janela e porta, mas também, para divisão de paredes, tudo que a gente pensar, hoje dá para ser feito no vidro também.
Quais seus conselhos para quem está começando nesta área aqui na região? Ou para quem pretende seguir a carreira e está enfrentando adversidades.
ME – As duas últimas vezes que estive palestrando para os jovens acadêmicos, enfatizei para que busquem se aprimorar, de não ter pressa de ingressar no mercado de trabalho. Aconselhei-os a fazer viagens, se possível, internacionais, conhecer um pouco da arquitetura, da história da arquitetura, de onde ela surgiu, como ela surgiu. A arquitetura até o século passado era mais focada para o lado do sacro quando o pé direito das obras eram todos voltados para uma escala que eu não diria nem humana, mas uma escala mais buscando homenagear os deuses. Igrejas e palácios do início do século passado para cá, vemos que a arquitetura após o modernismo, ficou para uma escala humana, então o pé direito já veio para atender ao ser humano e não mais ao sacro e religioso. Ela passou a ser mais humanizada. Acho que os jovens têm que buscar conhecer a origem da arquitetura, as mudanças que ocorreram no passado, até para poder saber como será no futuro. Oriento no sentido de que busquem conhecimento, não desanimem diante das adversidades, pois sempre vão surgir problemas, dificuldades, barreiras e não podemos desanimar diante disso.
Há uma citação de Oscar Niemeyer que me chama atenção. Ele diz “De um traço nasce à arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela (a arquitetura) pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte”. Concorda com esse pensamento?
ME – Concordo plenamente. Niemayer provou isso, fazendo uma arquitetura que desafiou a engenharia. A plástica que ele fez com o concreto, de uma maneira que tornou até uma obra pesada, ficar leve na sua estética. E arquitetura realmente nasce de um traço, como ele disse. Não pode ser apenas admirada, ela tem que servir para o ser humano, como ele fez as belíssimas igrejas e obras de arte, sendo que não se preocupou somente com a plástica da arquitetura. Boa parte das obras de Niemeyer continua habilitada, sendo que a maioria lá em Brasília. Ele provou que o concreto, o vidro e tudo que ele usou em seus projetos poderiam ser empregados de uma forma leve, bonita e plástica, se equiparando até a uma obra de arte. Esse questionamento sobre a arquitetura ser arte ou não, foi descartado pela escola de Belas Artes pelo seguinte motivo: O artista quando finaliza 100% seu projeto, e eu diria que a arte do arquiteto é dele até o momento em que ela é projeto; a partir do momento que ela vai ser executada, que ela vai para a obra, por exemplo, ela começa a sofrer interferências; são essas interferências que fazem com que ela deixe de ser arte, pois deixa de ser do artista, do criador, porque ela já vai mudando. Não adianta também querer brigar tirar placa de obra, dizer que vai tirar assinatura do projeto, o que acontece é que a gente não vai se indispor com cliente porque às vezes não é culpa dele. Às vezes alguns colegas que participam do projeto, um engenheiro calculista, um engenheiro hidráulico, algumas alterações vão surgindo, infelizmente algumas obras perdem a essência inicial.
Por fim, qual pensamento empreendedor gostaria de deixar para quem também quer inovar e se destacar.
ME – É aquela história que casa de ferreiro, espeto de pau, não combinam. O arquiteto tem que investir realmente nele, na profissão. Se for abrir um escritório não importa se vai ser em uma garagem, em um lugar melhor ou não, ele tem que pensar na acessibilidade desse escritório para o cliente dele poder chegar, e seja lá como vier: Numa cadeira de rodas, andando, não importa, ele tem que chegar bem nesse local. E também, mostrar um pouco da sua arquitetura no local que ele está atuando, no escritório, para que o cliente sinta que aquele profissional que está contratando fez uma coisa boa para ele próprio e que vai fazer também para o cliente, e investir, não ter medo. Outra coisa, não podemos descartar também os escritórios virtuais, se ele tem como atender virtualmente, se ele tem como atender esse cliente de alguma maneira pelo computador, pela internet, que procure uma empresa como a gente está fazendo com o Aqui No Guia. Empresas especializadas nesse tipo de atendimento, para que possa trazer para uma realidade virtual também o que o arquiteto tem para oferecer. Às vezes o cliente está longe e não pode vir fisicamente ao local do escritório, mas uma plataforma digital e virtual bem feita e bem elaborada pode conquistar. Hoje são muitos arquitetos que tem mais sucesso pela mídia digital, pelas suas redes sociais do que até algum escritório que seja inacessível a alguns clientes devido à distância. Então, investir na profissão, requer fazer o melhor trabalho tanto no espaço físico, quanto no virtual.
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